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Por diversas vezes pensei em como começar a escrever sobre ele. Tentativas e tentativas, apagadas uma após a outra, porque nada parecia suficiente para falar de Vinicius Calderoni. Aqueles que o conhecem entendem tamanha hesitação e resistência: se trata do medo de deixar passar um detalhe, uma informação - e eles são tantos que não se perder é um desafio.

Desde criança uma certeza perpassava a mente de Vinicius: ele seria artista. Exatamente como, a pequenez infantil ainda não era capaz de definir. Talvez por isso o adulto nunca tenha limitado sua arte, e sim tenha se tornado a definição perfeita da palavra multitalento.

Graduado em cinema pela FAAP, ele atuou na sétima arte com louvor: montou o curta "Os Sapatos de Aristeu" (que você pode ver aqui) vencedor de diversos prêmios, entre eles, justamente, o de Melhor Montagem; interligando suas artes dirigiu o DVD musical "Viadutos", de Dani Gurgel, e o clipe de "Nenhum Suingue", uma das músicas de seu primeiro CD. Vinicius também tem os dois pés firmados no teatro, sendo sócio-fundador (junto a Rafael Gomes) da Cia. Empório de Teatro Sortido, que já tem duas super produções no currículo: o espetáculo Cambaio [a Seco], que ficou em cartaz em 2012, e Música para cortar os pulsos, grande sucesso que está de volta para uma pequena temporada em São Paulo. Além disso, Vinicius avisa que está ensaiando mais uma peça, Um útero é do tamanho de um punho, baseado no livro homônimo de Angélica Freitas, e que no segundo semestre deve estrear seu primeiro texto, chamado Não nem nada.

Achou muito? Mas isso é só começo! Desde criança a alma artista de Vinicius já reverberava em outra arte: a música. Cantando “de brincadeira” quando pequeno, foi em 2007 que Vinicius lançou Tranchã, um dos melhores discos que já tive o prazer de ouvir. É difícil dar destaque a uma ou duas faixas: cada composição tem uma beleza própria tão intensa, que se une às outras a fim de formar um todo coeso, uniforme, que torna a audição do disco indescritivelmente completa e estimulante. Além de toda a produção, Vinicius concebeu um projeto “Os 12 clipes de Tranchã”, onde cada música foi entregue a um jovem cineasta diferente, incluindo entre eles o próprio Vinicius, como acima citado. Por isso, vamos assistir agora, justamente, “Nenhum Suingue”, dirigido por ele!



Seria suficiente, ser um jovem diretor de cinema, teatro e músico, que conseguiu de cara agradar a público e crítica. Mas o espírito inquieto do artista não o abandonou em nenhum momento, e num belo dia, como ele mesmo conta, Vinicius acordou com uma nova ideia pronta, formada, inovadora. Entre tantos jovens talentos que ele conhecia, convocou seu grande amigo Tó Brandileone e os músicos Pedro Alterio, Pedro Viáfora e Dani Black para um novo projeto: uma temporada de shows em São Paulo, com as composições que eles já tocavam, individualmente ou em pequenas formações, costuradas de modo a transmitir o que todos eles sentiam, juntos. Nascia o 5 a Seco.

Como dito, o 5 a Seco foi concebido pra ser um projeto pequeno, limitado, com data pra começar e acabar. Mas os sucessos individuais dos 5 nomes, quando unidos, ganharam uma força inesperada até mesmo para eles, e logo ficou claro que o público não iria deixar acabar ali. Com a saída de Dani, a fim de se dedicar à carreira solo (sem, no entanto, jamais ter desfeito seu vínculo com o grupo) e a entrada de Leo Bianchini, o coletivo-banda-grupodeamigos cresceu exponencialmente, culminando na gravação do CD e DVD Ao Vivo no Auditório do Ibirapuera, em junho de 2011. No final do ano passado, em uma entrevista ao programa Nova Trilha, na Rádio USP, os meninos avisaram que estavam se encaminhando para o inevitável: um CD de estúdio, com novas músicas desses talentosíssimos compositores que conquistaram o país inteiro. Mais uma grande ideia de Vinicius Calderoni.

Esse espírito inquieto, que precisa sempre da novidade, da mudança, define bem o artista que é Vinicius. Acima de tudo, o desejo de tocar o público, de fazer com que cada um de nós sintamos a energia que há dentro dele, que precisa ser posta pra fora. Ou, em suas próprias palavras, 
“criar é minha vida, é a maneira mais potente que encontrei pra externar minhas reflexões sobre a vida. Porque se eu me tornei uma pessoa melhor por uma série de experiências que tive como espectador, quero poder tentar fazer o mesmo com outras pessoas”. 
Nunca ter se fixado a um tipo específico de arte não configura um defeito; ao contrário, Vinicius destaca-se em tudo o que atua, seja como diretor, produtor, compositor ou cantor. É uma inspiração constante pra quem o admira, uma afirmação ambulante da definição de talento, como um Midas que transforma em ouro tudo o que toca. Mas, diferentemente do rei grego, Vinicius está sempre lá, apto a desfrutar dos bons e ótimos resultados de sua arte, e produzir ainda mais.

É incrível encontrar alguém como ele pra admirar. Especialmente porque sua atividade nunca para: além das peças citadas acima e o 5 a Seco, Vinicius está lançando agora (com show de estreia no dia 24 de março, no Itaú Cultural – para mais informações clique aqui) o seu segundo CD, 5 anos depois: “Para abrir os paladares”. Então, pra encerrar, ficamos com a primeira faixa já divulgada por ele, e afirmo que a expectativa quanto ao álbum é alta: afinal, de Vinicius Calderoni nunca esperamos menos do que o melhor. E ainda assim ele sempre consegue nos surpreender.





por Isa Leite