"Trezentos-e-cincoenta"




Você o conhece, pode ter certeza. Talvez, nesse momento, não se lembre. Ou talvez associá-lo a um blog que costuma tratar de MPB e suas variantes pareça estranho pra você. Afinal, parte das suas lembranças com ele deve ser com gritos e uma plateia ensandecida. Sérgio de Britto Alvares Affonso, ou simplesmente Sérgio Britto, é tecladista e uma das vozes da banda de rock Titãs, na estrada há 30 anos. Durante sua trajetória com a banda foi o compositor mais gravado – e gritou bastante, em sucessos como Polícia ou AA UU. Mas Britto também é o cantor de grandes hits que ganharam o gosto popular, como Epitáfio e Enquanto houver sol. Mas, ao contrário do que possa ter parecido até agora, não é o titã Sérgio Britto o tema de hoje.

Não. Hoje, quero apresentar alguém ainda não tão conhecido: o outro lado do músico Sérgio Britto, dono de uma carreira solo respeitável e muito, muito diferente se seu trabalho como titã.




A música acima pertence ao último álbum de Britto, mas a história começa muito antes disso. Em 2000, Britto lançou A Minha Cara, seu primeiro cd solo. Nele, composições com os parceiros Arnaldo Antunes e Marcelo Frommer, além de músicas feitas sozinho (e o poema "O bem, o mal" de Torquato Neto, musicado por Britto) e uma regravação: "Cinco Bombas Atômicas", de Jorge Mautner. Britto participou de toda a produção do cd, tornando seu título mais do que verdadeiro. Demorou, mas em 2006 saiu o segundo disco, Eu sou 300 (com referência no título ao poema homônimo de Mario de Andrade, outro ídolo de Britto). Nele, tal como no primeiro álbum, uma forte referência pop, letras bem trabalhadas, falando sobre o cotidiano, a vida, o amor (e o futebol, como "Chulapa Free" (Sérgio Boneka, Trambolho e Rogério Campos), uma das paixões desse santista roxo). Ainda assim, Britto não parecia ter chegado a um denominador comum em seus trabalhos: faltava uma sonoridade própria, ainda a ser descoberta.

Mas, em SP55 (2010) ele com certeza se encontrou. Agregando às suas próprias composições referências de diferentes estilos, principalmente o samba paulistano, de Adoniram Barbosa, e a bossa-nova, do mestre João Gilberto, Britto encontrou o seu próprio lugar individual. Através da temática familiar, que delineia todo o disco, conseguimos ver arranjos sofisticados, bem finalizados, uma escolha coesa e marcante do repertório. A supracitada temática familiar nos vem, especialmente, nas canções "Sérgio e Raquel", "Essa onda não me pega", "Ah, muleke! (José)" e a já ouvida acima, "Nossa Religião". Ainda nas canções fortemente românticas, merecem destaque a parceria com Marcelo Frommer, guardada por anos "Lá vai você" e "Águas Paradas", onde a liricidade alcance talvez o ápice em todo o CD. As parcerias com Marina de la Riva, Negra Li e Wanderléa são belíssimas, escolhas acertadas de Britto, encontros perfeitos entre vozes e interpretações. Outro ponto importante é a consolidação definitiva - que já vinha desde o Eu sou 300 - com o músico Emerson Villani, produtor dos dois CDs e peça fundamental na musicalidade obtida. Violonista aprumado, VIllani acompanha Britto sempre nas apresentações, como neste Estúdio ShowLivre, gravado em 2012, onde podemos ver a versão que ele faz para o clássico "Iracema", gravada no disco:




SP55 parece ter colocado Sérgio Britto no rumo que ele buscava desde o começo de sua carreira solo, tanto que agora, em 2013, está prestes a lançar novo disco. Purabossanova repete os acertos de seu predecessor sem, no entanto, deixar o menor vestígio de repetição. Ao contrário, continuidade parece ser a palavra-chave, e as pílulas já lançadas pelo músico fazem-nos aguardar ansiosamente por esse trabalho. Com as participações de Rita Lee, Alaíde Costa, Roberta Sá e Luiz Melodia (entre outros), o disco conta com pelo menos uma música em espanhol (Sérgio Britto morou quando criança no Chile, e foi alfabetizado em espanhol), além de outras parcerias. Promete ser um grande momento, uma evolução - se é que se pode falar em evoluir de algo que já era realmente bom. Melhor dizer que é uma ampliação.

O Sérgio Britto artista solo não é maior ou menor que o Sérgio Britto titã reconhecido. Ambos se fundem numa única pessoa, capaz de emocionar e animar, de exasperar e encantar, que grita, pula e também fala baixo, suavemente. Em suma, um artista completo.




por Isa Leite
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