As mil facetas de Rafael Cortez





Falar de Rafael de Faria Cortez é falar de um cara multifacetado, plural e cheio de talentos. Paulistano, é jornalista (formado pela PUC), ator, palhaço, músico, humorista, repórter, apresentador de TV. Trabalhou em filmes publicitários, teve um programa na internet (onde deu vida por quase dois anos ao personagem Loreno na ClicTV), participou de dois curta-metragens ( ‘X’ de Pedro Granato e ‘Torta’ de Ricardo Vargas), dublou o personagem Félix no longa de animação ‘Detona Ralph’ da Disney. Lançou, pela Editora Falante, quatro audiolivros do escritor Machado de Assis (sendo eles ‘O Alienista’, ‘Dom Casmurro’, ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ e ‘Quincas Borba’) e o clássico ‘Meu Pé de Laranja Lima’ de José Mauro de Vasconcellos. Atuou em diversas assessorias de imprensa, na revista da Universidade Uninove e foi colaborador de uma edição especial da Veja SP. Esteve por quase cinco anos na Abril Digital, onde desenvolveu diversos conteúdos jornalísticos para celular. Ganhou o 32º Prêmio Abril de Jornalismo em 2007 na categoria Conteúdo para Celular e, em dezembro de 2008, recebeu o 2° Prêmio QUEM de Melhor Jornalista de TV. Foi, também, produtor de teatro e televisão por dez anos seguidos.

A grande virada na carreira veio em 2008, quando passou a integrar a equipe do CQC (Custe o Que Custar), da Rede Bandeirantes e foi projetado nacionalmente.Durante cinco anos Rafael foi um dos repórteres mais queridos da atração e realizou mais de 600 gravações e coberturas, entre elas o Oscar 2012, as Olimpíadas de Londres 2012, a Copa do Mundo da África do Sul em 2010, o Festival de Cinema de Cannes em 2009 e o Festival Internacional de Cinema de Veneza de 2008. Tem um solo de comédia totalmente autoral chamado ‘De Tudo Um Pouco’, com o qual viaja por todo o território nacional. Integra a equipe de colaboradores do portal Yahoo! Brasil, onde tem um blog com textos diversos e vídeos engraçados. Está fazendo o lançamento de seu CD instrumental em teatros, livrarias e espaços culturais de todo o país. Também viaja com apresentações de leituras e execuções musicais de seu audiolivro ‘O Meu Pé de Laranja Lima’. Atualmente comanda, todas as terças-feiras à noite, a versão brasileira de ‘Got Talent’ na Rede Record (programa que é sucesso em mais de 50 países). Ufa!

Nascido em uma família de artistas (tem ator, pintor, bailarina), Rafael passou a tocar violão aos 17 anos - queria fazer algo artístico, mas não quis ir de cara para o teatro, porque achava que esse era o terreno de seu irmão (o também ator Leonardo Cortez). Frequentava as rodinhas de violão e queria se autoafirmar, ‘impressionar as meninas’. Começou sozinho, mas depois foi fazer aulas de popular com uma professora chamada Ledice Fernandes. Um dia ouviu um primo de Piracicaba tocar violão clássico e foi arrebatado por aquilo! Mudou suas aulas com Ledice e mergulhou totalmente nesse mundo. E, naturalmente, à medida que ia estudando, ia compondo – e é assim até hoje. Também foi aluno de dois dos maiores professores do país: Henrique Pinto e Edelton Gloeden.

Maria Bethânia, Maysa, Caetano, Chico Buarque e Nara Leão (de quem é fã incondicional) são suas maiores influências musicais na MPB. No violão clássico, sua predileção é por Andrés Segovia, mas  destaca também Julian Bream, Fábio Zanon, Manuel Barrueco, Irmãos Assad (Sérgio e Odair), Badi, Pepe Romero, Narciso Yepes, Kazuhito Yamashita, Yamandú Costa e muitos outros. E, para surpresa de alguns, é fã ardoroso do grupo de hip hop americano Public Enemy – possui até uma tatuagem no braço direito em homenagem à banda.

Considera Segovia e Badi Assadi as pessoas responsáveis por sua consolidação no campo musical. “Segovia fez comigo o que fez com milhões de violonistas no mundo todo, ao longo de seus 94 anos de vida e até hoje, mais de 20 anos após sua morte: me fez amar o violão e assim irei amando até morrer. E a Badi, pô... Ela foi minha professora... Me devolveu o tesão pelo violão que eu perdi quando fui reprovado no exame da Unesp, em 1998, que era a coisa que eu mais queria na vida àquela época. Badi me mostrou um violão tocado na perna direita, sem crise, suingado, com compositores brasileiros incríveis e recursos técnicos fantásticos. Sempre serei grato a ela”.

Possui dois CDs lançados: o ‘Solo’, de 2005 e o ‘Elegia da Alma’ de 2011. Com o ‘Solo’ as dificuldades foram grandes: não conseguiu um selo, uma distribuidora, nada. Tirou apenas 200 cópias de baixíssimo orçamento e recebeu um material gráfico mal-feito, errado, que demorou quatro anos para ser ‘desovado’. Com o Elegia foi um pouco diferente: Rafa foi até bem recebido nas grandes gravadoras, mas por não querer se submeter às imposições do mercado fonográfico, achou melhor lançá-lo de forma independente. O CD, composto por quinze canções e todas elas composições próprias, foi distribuído pela Tratore e vendeu quase 4 mil cópias em menos de dois anos – o que é realmente um feito, se considerarmos que trata-se de um disco instrumental autoral violonístico e independente!

Como grande fã de Nara, achou uma maneira de homenageá-la: criou o ‘Mulheres de Hoje Cantam Nara Leão’. Trata-se de um projeto onde cantoras de hoje passam pelo repertório principal de Nara, das obras que mais se popularizaram às que ela mesmo mais curtia. Tudo será documentado em um show especial para, depois, virar um DVD. E esse DVD terá depoimentos de amigos e conterrâneos de Nara, gente que viveu e trabalhou com ela. “O grande problema é que esse projeto, assim como muitos outros dentro dessa lógica do mercado cultural atual, não consegue patrocínio. Ele está aprovado pela Lei Rouanet, tem tudo certo, etc. Só não consegue recursos. Não há rejeição com Nara ou comigo como curador. Há, sim, um péssimo momento de resguardo dos patrocinadores e, consequentemente, cautela excessiva de todo mundo que capta recursos. É triste”, diz Rafa.

Poucas pessoas têm o privilégio de conhecer um outro lado desse artista tão completo: o de pessoa incrível que ele é. Me incluo, feliz e honrada, nesse seleto grupo. Quem conhece e convive, ainda que minimamente, sabe o quanto esse cara é talentoso – em todas as áreas em que atua. Mais do que um rostinho conhecido e bonitinho, Rafael é extremamente inteligente, educado, preocupado, engraçado, de caráter e honestidade inquestionáveis. Vê-lo tocar é presenciar uma transformação em cima do palco: em minutos violonista e violão fundem-se em uma única coisa, transcendendo o próprio palco e tocando os corações de todos os expectadores.

Escolher uma única composição dele é difícil, uma vez que são todas muito bonitas. No entanto, uma delas bateu forte e me emocionou desde a primeira vez que a ouvi. Chama-se Naquele Tempo:




Rafael Cortez é assim: inquieto, curioso, singelo, belo, instigante, sensível, ousado, arrebatador. Tudo ao mesmo tempo.



por Bia Anchieta