Álbum: Elegia da Alma (Rafael Cortez)






Foto: divulgação


“Rafael Cortez não veio pra explicar. Veio pra confundir”. Com essas palavras podemos ter uma dimensão do que é “Elegia da Alma”, o primeiro trabalho do músico, palhaço, jornalista e ator paulistano Rafael Cortez.

Lançado oficialmente em junho de 2011 (mas produzido ao longo dos anos de 1996 a 2010), “Elegia da Alma” pegou uma multidão desprevenida; muita gente sequer tinha ideia de que Rafael é violonista clássico formado - e dos bons. O CD, instrumental, autoral e totalmente independente (distribuído pela Tratore) , nos leva a uma viagem interior muito curiosa. Se num primeiro momento nos causa certa estranheza (por sua natureza pouco comum), no segundo seguinte nos arrasta e nos impulsiona a um turbilhão de emoções. Alegria, tristeza, saudade, melancolia, tranquilidade, solidão e paz de espírito são alguns desses sentimentos que nos arrebatam, dos pés à cabeça, sem pedir licença, ao longo de suas 15 faixas.

Com canções ora suaves e melodiosas, ora introspectivas e tristes, o CD precisa ser ouvido algumas vezes para ser, de fato, digerido e compreendido. É preciso, acima de tudo, querer e estar com o coração e os ouvidos abertos a essa nova experiência - do contrário, pode passar (erroneamente) a ideia de cansaço e repetividade. Faixas como “Badica”, “Maninha”, “Cordel de Guilherme de Faria”, “Helena” e “Encantada” são homenagens a pessoas queridas e importantes na vida do artista – sendo elas, respectivamente: Badi Assad (cantora, violonista, professora e amiga), Thaís Cortez (sua irmã), Guilherme de Faria (seu tio), Helena (sua avó) e Nara Leão (cantora de quem Rafael é fã fervoroso). Por falarem de sentimentos tão próximos à vida de todos nós, sejam essas, talvez, as faixas de assimilação e aceitação mais rápidas.

“Saudades da Bossa” é um sambinha despretensioso, que nos remete à MPB mais antiga, mais bossa nova. “Ponte Aérea” é sua primeira composição para violão solo e faz referência aos amigos que vivem no Rio de Janeiro; é uma música que fala um pouco da saudade e dos bons encontros com essa turma. “O Punhal”, “A Voz do Vento”, “Demasiado Tarde” e “A Morte de Pedro Missioneiro” são peças que compõem “A Tocaia”, um tema baseado em “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo.  Por serem de temática fora do lugar-comum a que estamos acostumados, essas quatro faixas são as mais complexas e diferentes dentro desse trabalho – o que não significa que elas não mereçam nossa atenção.

“Quando Danço com Seu Corpo” foi uma peça feita sob encomenda para a bailarina Andrea Thomioka.  Começa de maneira clássica, mas depois segue por um caminho tenso, misterioso; e retorna, aos poucos e de maneira mais suingada, ao tema original. “Rua das Estrelas Sirius” é uma nostálgica volta ao passado (a vila onde ele cresceu e passou boa parte da infância é o mesmo que dá nome a canção). “Elegia da Alma” é uma composição que fala da parceria entre artista e sua obra; sobre a inspiração e magia envolvidos em qualquer obra artística – não por acaso foi esse o título escolhido para nomear o disco. “Naquele Tempo” é uma canção singela que fala sobre aquilo tudo de bom que fica depois que alguma relação acaba; sobre as coisas boas que permanecem e que são importantes. É sua música mais conhecida e uma das preferidas de seu público. O disco conta ainda com uma faixa bônus (“O Velho Diálogo de Adão e Eva”), um improviso que integra o audiolivro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, lançado por ele em 2008.

“Elegia da Alma” é, sem dúvida, um grande disco. Chama a atenção por não ser comercial e nem direcionado às grandes massas – daí o seu diferencial: fazer música pelo simples prazer; sem muitas ou maiores pretensões. É um trabalho virtuoso, bucólico, passional, singelo e arrebatador – a síntese perfeita do próprio Rafael.



Por Bia Anchieta