Sobre Músicas: Amanhecendo





Há ocasiões em que uma música soa aos nossos ouvidos com um certo tom, uma certa abordagem, causa-nos um determinado sentimento e, essa mesma música, interpretada por outras pessoas, traz uma sensação completamente diferente.

Normalmente, nesses casos, a nossa tendência é escolher uma das versões, dizer "esta é a minha preferida". E eu, via de regra, não tenho problemas com escolhas. Mas, confesso, surgiu algo inesperado em meu caminho.

"Amanhecendo" (Caê Rolfsen/Leo Bianchini/ Pedro Viáfora) mostrou-se uma pedra no meu sapato. Não apenas duas interpretações distintas chamaram minha atenção, mas uma terceira surgiu para terminar de dificultar minhas escolhas.

Pensando nisso, decidi mostrar essas três versões aqui, explicando (ou melhor, tentando explicar) o que cada uma desperta em mim, o modo como cada uma delas fala comigo.

Vamos a elas:

1. Leo Bianchini

A primeira versão que conheci foi na voz de Leo Bianchini, um dos autores da música. Falar sobre o Leo pra mim é muito difícil, por um simples detalhe: ele é, sem dúvidas, uma das minhas vozes preferidas. Com um timbre "esquisito", diferente, ele chamou minha atenção pela leveza com que canta a música, de letra melancólica e resoluta. Falando em seus versos sobre alguém que deve aceitar a hora de partir, ainda que seu coração queria ficar, a canção ganha um ar de aceitação na voz deste intérprete. É como se ele dissesse "Ok, eu vou. Sem problemas". Não resignado, não. É algo... que simplesmente deve acontecer.




O vídeo, só em voz e violão, no alto de um prédio, colabora nessa leveza. O céu ao fundo, gigante, sem fim, nos permite expandir também nossas perspectivas: afinal, o mundo é grande, o topo está longe, e partir significa também desbravar esse desconhecido, enorme e promissor.


2. Pedro Altério e Bruno Piazza (part. Luiza Possi)

Esta segunda interpretação para Amanhecendo difere completamente da primeira. A começar pelo arranjo - não mais a leveza da batida do violão de Leo, mas a delicadeza das cordas de Pedro Alterio, com o piano de Bruno Piazza - e pelo fato de não ser mais uma única voz e sim um dueto. A alternância entre as vozes de Pedro e Luiza nos traz não mais a aceitação pacífica, e sim o sofrimento realmente melancólico. Ainda assim, é uma melancolia ponderada. A decisão, se não parece tão fácil quando no primeiro caso, é também aceita aqui como o melhor caminho a se tomar.

Luiza possui agudos delicados, que combinam com o instrumental desta versão. Na profundidade das duas vozes entrelaçadas, a mensagem que chega até mim é: partir é difícil, mas ainda é o melhor.




3. Bruna Caram

Confesso que quando ouvi Bruna Caram cantando "Amanhecendo" pela primeira vez minha atitude foi de decepção. Algo não me agradou. talvez porque estivesse contaminada pela voz de Leo, talvez porque havia eleito o cd de Pedro e Bruno como meu prefeido, mas lembro de ter feito o comentário "ela acabou com a música". Se tenho um arrependimento é desse julgamento injusto e precipitado. Uma segunda audição e eu já estava me perguntando como não havia me apaixonado instantaneamente por essa versão.

Bruna leva a melancolia a tristeza da letra em seu grau mais alto. Com o arranjo da música ligeiramente modificado, ela canta cada palavra com a voz embargada de emoção. Não há delicadeza ou leveza: é a profunda dor do abandono que escutamos a cada verso. Tudo pronunciado perfeitamente, como que para assegurar que aquele que a escuta entenda perfeitamente a mensagem. Aqui a escolha por partir não se faz porque é o melhor; a sensação que temos é que ficar sim seria incrivelmente mais doloroso.





Tudo isso, claro, são apenas impressões pessoais. São as minhas leituras para três versões incríveis, por quatro intérpretes maravilhosos. Cabe a cada um ouvir e sentir aquilo que lhe parecer mais apropriado, deixando-se levar (ou não) por essas vozes deliciosas e apaixonantes.


por Isa Leite